[Aventura] Caranguejo não é Peixe

Caranguejo não é Peixe ─ 06

O mordomo ouvia-a com atenção, mantendo seus olhos em cada um de seus movimentos. Seja o treino repetitivo, ou na história que contava. Ele abrira um curto sorriso vez ou outra, entendendo e, aparentemente, gostando de seu sarcasmo. Até que finalmente, as posições mudassem. Ele parou. Ponderou por alguns breves segundos e começou a falar. Sua voz estava um pouco mais séria desta vez.

─ Bem. Creio que palavras não sejam minhas especialidades, senhorita
─ Não é comum ficarmos curiosos com convidados tão ilustres em nossas casas? ─ Dera um curto sorriso, enquanto puxava uma cadeira, sentando-se. Sua seriedade começava a diminuir.

─ Se quer um conselho, suma. Pegue seus amigos e vá embora deste inferno ─ Ele deu de ombros, como se aquele fosse o melhor que pudesse fazer. ─ Há algo mais que deseja, senhorita Nezha?


Sua serviçal parou de jogar tanto perfume quando pedido, dando passos para trás e escutando com seriedade sua explicação. Apesar de já ter percebido outrora as partes metálicas de seu corpo, parecia ter se dado conta apenas naquele instante e, por alguns segundos, pôde perceber uma careta que rapidamente transformou em um sorriso forçado. Ao menos havia sido o suficiente para afasta-la e dar-lhe seu merecido espaço.

─ É claro, minha senhorita!
─ Ajudarei o restante das cozinheiras no banquete. Espero que esteja preparada!

E então, a mesma saiu pela porta, deixando-a naquele imenso cômodo, totalmente sozinha. De imediato, começou a usar as máquiagens que desejava. E, claro, devido aos anos que passara em Ballywood, sabia mais do que qualquer um a forma correta de utilizar cada uma daquelas coisas a sua frente. Seus bicos de maquiadora não foram em vão. Quando terminou, cerca de trinta minutos haviam passado-se e, olhando pela janela, observava que aquele lugar começava a escurecer rapidamente.


O 'tio' que conversava com você dera um sorriso pela primeira vez ao ouvir suas palavras e, certamente, teria gargalhado em outra situação. Mas no momento em que estavam, da forma como aqueles homens trabalhavam incessantemente, não havia sequer força para tal. E, no fim, sobrara a ti a missão de entreter as crianças que se aproximavam com grande curiosidade.

─ Rumbar? Onde é? Que incrível.
─ O seu olho... Ele é real? ─ Outro começara a pular, tentando tocar no que restava de seu olho faltante.
─ É como vidro! Oah!!
─ Mas... o que é novo mundo? E como vai chegar até lá? É por Vila Velha? ─ Eles pareciam totalmente confusos.

Em algum momento, enquanto ainda conversavam, uma série de outras pessoas, vestidas de uma maneira bem mais jeitosa, aproximavam-se. Eram homens e mulheres, de peito cheio e caracterização altiva. Não os conhecia, mas ao terem-no em sua visão, começaram a se aproximar.
─ Algum de vocês viu Bellamy? ─ O tratamento entre eles não parecia igualitário. Na verdade, era como se tivesse um certo preconceito entre os mordomos e os trabalhadores braçais.

─ E você, olho-de-vidro, o que acha que está fazendo? Por que não trabalha? ─ Ele pergunta.

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─ Garoto... Menino? ─ Ele dera um leve gargalhar, enquanto se recompunha. ─ Altair, Senhorita

Ele dera de ombros, mantendo uma expressão quase nula, mas extremamente serena. Era como se mal tivesse dito algo que pudesse ter mudado seus olhos para aquele lugar. Na verdade, Altair parecia se divertir as suas custas. ─ Bem. Se permanecer aqui, descobrirá em breve um pouco mais sobre essas terras e o mal que nela permeia ─ Suas palavras pareciam carregadas, como se de fato algo muito ruim fosse acontecer, mas não parecia estar disposto a te dar mais informação. Não ali. Não agora.

Por fim, olhou em direção ao seu pulso, onde um relógio informava as horas exatas para que pudessem seguir até o cômodo inferior.

─ É 18:00 horas. Vamos? ─ Era chegada a hora do jantar.

Caso aceitasse, seguiria em direção ao corredor e, finalmente na escada. Longe, uma música era possível de ser escutada, mas inicialmente, não sabia de onde viria. Era guiado por Altair com calma e delicadeza entre cada passo da escada e, ao passar da primeira porta, a música tornou-se mais alto. ─ Ele realmente quer impressionar a garota, não acha? ─ Ele dera um leve sorriso.

─ Vamos ter um ótimo show essa noite ─ E então, após mais alguns passos, chegaria numa sala de jantar estupenda. Havia uma dúzia de lugares vagos e diferentes comidas. Musicistas tocavam algum tipo de música clássica que, para você, parecia ser calmo de mais. (Embora fossem inegavelmente talentosos)

─ Sente-se por favor, senhorita. O que deseja beber? ─ Ele perguntou.

Ao menos por enquanto, estava sozinha por ali.


Batidas na porta acordavam-na de pensamentos conflituosos. Estava evidentemente preocupada com o seu capitão, pois sabia o quão ruim ele poderia ser com relação à geografia dos lugares, geralmente perdendo-se até mesmo em estradas sem curvas, mas era hora de sua própria vida ter uma continuação. Caso demorasse para atender ou responder, a mesma serviçal que outrora havia ajudado-lhe, apareceria falando um sonoro e feliz " Com li-cen-ça! " ─ Apenas para que pudesse avisa-la de algo que ocorreria em pouco tempo. O tão aguardado Jantar.

─ Senhorita! Devemos descer. O jantar já está na mesa e milorde está em seus aposentos!
─  Em breve descera, após se arrumar, para que possa conhece-la pessoalmente!

E então, ela andaria em sua direção, extremamente alegre e até um pouco irritante, dando-lhe o braço para que segurasse. ─ Vamos? ─ Apesar de tudo, fora mais rápida: caso tivesse perguntas sobre Bellamy, ela diria em alto e bom som.

─ Nós encontramos o seu amigo! Em breve estará conosco. Aparentemente, ele se encantou por nossa fazenda de arroz!
─ Não é incrível! Oh sim! Tudo nessa fazenda é incrível ─ E então, praticamente a 'arrastaria' cantarolando um "Tarãrã". Não bastaria muito tempo até que a mesma música que Nezha escutara, pudesse ser audível para ti.


─ Oaaah! Que incrível Tio! Eu quero ir com você!
─ Nós queremos tio! Podemos ir?! ─ Todos estavam EXTREMAMENTE saltitantes com todas as histórias, mas quando os mordomos surgiram, a grande maioria dos pequenos trabalhadores começaram a recuar, seja por olhares daqueles homens ou simplesmente medo do que pudesse acontecer. E claro, rapidamente, aquela estranha conversa iniciou-se.

─ Bem... É O  QUE ESTAMOS FAZENDO! ─ Ele alterou a voz, mas tossiu, dando tapas em seu peito.
─ Digo, estamos atrás do Bellamy. Amigo da Lady Maki! Alguém o viu? ─ Ele perguntou, olhando ao redor. Todos os escravos sabiam tratar-se de você, mas de forma alguma o trairiam. Se não fosse de seu desejo segui-los, pelo menos.

─ Saia da frente, homem! Nós precisamos acha-lo. Em breve o Barão pedirá sua amada em casamento e ela pediu para que Bellamy fosse testemunha da consumação deste amor! ─ Ele tentou passar por você. Aquela história realmente estava engraçada. Maki? Casar com o Barão? O que havia acontecido naquele meio tempo perdido?

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─ Você... o Bellamy? ─ Ele parecia inicialmente desacreditado e, até mesmo dera passos para trás, olhando para os outros mordomos. Todos davam de ombro, como se realmente não soubessem exatamente o que esperar. Apenas um, que de fato havia prestado atenção nas descrições dadas, confirmara. ─ Ora, senhor! Peço desculpas pela forma que me expressei. É que, de fato, a situação me força a ser apressado ─ Ele sorri e, praticamente tenta fazer com que suas palavras até aquele breve momento fossem descartadas.

─ Oh... sim. Ela não havia comentado com o senhor? Na carta estava bem claro sobre o laço que criariam, afinal de contas! E se está aqui, tenho certeza que deseja tanto quanto nosso lorde! ─ O sorriso em seu rosto era impagável, como se realmente estivesse feliz com aquilo. Para você, Maki nunca faria algo como aquilo. Não sem conhecer corretamente o pretendente. E, principalmente, não deixaria para trás sua vida de aventura por um casamento monótono numa ilha como aquela.

Era inaceitável!

─ Bem. Vamos lá, Senhor? ─ Ele estava a sua espera e parecia tentar ler suas expressões.

Caso decidisse seguir junto ao mordomo, finalmente seguiriam em direção à mansão de Crab.


Ambas estavam reunidas. A mulher que outrora te atendera tão bem, parecia não estar tão disposta desde que havia se desvencilhado de seus braços, mantendo-se a alguns metros de ti e com um rosto um pouco mais fechado. Vez ou outra, observaria-a comentar algo com uma outra doméstica, cochichando, mas sem tirar os olhos de ti. Óbvio que estava falando mal.

Enquanto isso, Altair continuava a servir Nezha da melhor maneira que encontrasse. Havia em sua frente bebidas e comidas caríssimas, mas em um ponto a música parou. O clima parecia ter mudado. Surgia da escada uma fumaça, enquanto os musicistas pareciam preparar-se para algo que ocorreria em breve. Primeiro, o violão. Num tom melancólico, quase fúnebre. A testa do mesmo parecia criar cada vez mais voltas enquanto ele impetuosamente continuava.

Em sua sequência, o Piano. Complementava para uma música absolutamente perfeita. Especialmente por que, dentre todos os musicistas, era ele o que tinha o maior dom entre os presentes.

E por fim e em uma junção perfeita, o trompete e a flauta soaram em unisono. Era quase impossível não se emocionar com aquilo. Mas além da música perfeita, começava a soar passos lentos e controlados. Em algum momento, puderam ver o primeiro pé surgir em direção à sala de jantar e finalmente surgir um homem de cabelos verdes espetados em um paletó marrom e gravata vermelha. Sequer era necessário nomea-lo, afinal de contas, todas as firulas já eram mais que o suficiente para entender: Era Crab.


Ele era ésguio, provavelmente não pesando mais do que cinquenta quilos. Além de alto - cerca de um metro e noventa. Além de todas as suas características um tanto quanto... estranhas, havia algo chamativo de mais em seu rosto: uma dupla de bigodes separados muito um do outro. Ele andava cumprimentando com um menear de cabeça cada um de seus mordomos e servas, enquanto aproximava-se de você tentando manter-se numa pose mais elegante possível.

E então, frente a ti, ajoelhou-se enquanto levantava a mão. Como se esperasse a sua mão, para cumprimenta-la como uma dama. Já havia visto aquele tipo de coisa outras vezes, em filmes ou em livros.

Cafona de mais.

E, nesse exato instante, chega Bellamy um tanto quanto cansado pois havia pedido para os mordomos apressarem o passo e levarem-no até Maki.

Carta:

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─ Não consigo opinar corretamente, Senhor Bellamy ─ Dizia um dos mordomos, soando frio. Parecia querer manter um pouco a distância entre ele e você. ─ Mas... sendo sincero, se fosse uma filha minha, certamente não deixaria casar-se com alguém com o dobro de sua idade ─ Sussurrou, enquanto tossia para cobrir as suas palavras dos outros que, embora fossem homens de Crab, acabavam tendo opiniões muito semelhantes.

A caminho, era possível observar que a mansão era possivelmente a única residência iluminada naquela área. A música era possível ser ouvida desde onde estava.

Enquanto isso, na sala principal.

Altair segura um sorriso, enquanto simplesmente dá de ombros. Era como ele havia falado: deveria enxergar as coisas a partir dali por seus próprios olhos e, sentada, permanecera observando a estranha troca de palavras entre Crab e Maki, a garota que havia sido responsável por estar ali. Certamente, sua versão do Porto seria totalmente errada se não tivesse sido o acaso de encontra-la.

─ Boa Noite, senhorita Maki! ─ Crab parecia extremamente empolgado, um tanto tenso.
─ É uma honra tê-la em minha humilde residência e sei o quão deve ter sido difícil velejar até aqui apenas para nos conhecermos e... bem, talvez dar um passo a mais em nossa relação
─ Como pode imaginar, o presente que havia prometido à senhorita está no caís. Trata-se de um barco maravilhoso. O "Serenidade"! ─ O barão parecia realmente feliz com aquele presente. Apesar de tudo, ainda não parecia desconfiar que você não havia entendido suas segundas intenções.

─ Quanto antes finalizarmos a cerimônia, melhor! ─ Então, ele bateu palmas e, sentou-se, praticamente ignorando a presença de Nezha, que observava a cena um tanto quanto descrente.

O verdadeiro banquete começou assim que Crab sentou-se e novamente, bebidas e comida começariam a ser servidas, mas de uma qualidade ainda maior. ─ Sintam-se em casa, convidados!

Sua chegada, no entanto, alertara a maioria dos mordomos, que abriam espaço para que ficasse de frente com a mesa de jantar. Crab levantou-se, limpando o canto da boa com cautela após mastigar um pedaço grande de frango. ─ Quem é este homem? ─ Afinal, não sabia que Bellamy era um amigo de sua pretendente.

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Crab parecia um tanto quanto surpreso com o que Bellamy havia feito, ignorando-o totalmente, mas relevou. Certamente não queria estragar a sua noite, ainda mais sendo um companheiro de sua belíssima dama. Pessoas como aquele rapaz conhecia de monte e, sabia se conter quando necessário.  ─ Ve...velhote? ─ Ele dera uma leve gaguejada ao ouvir a palavra. Apesar de não parecer, Crab não era tão velho, estando apenas com seus trinta e cinco anos.

─ Sou Crab ─ Ele continuou, um tanto quanto atônito. ─ Barão Crab von Fael
E então sua atenção é tragada pelas palavras da garota, que também parecia ser uma das convidadas de sua amada. Ele se vira: inicialmente, sequer havia prestado atenção na mesma, mas parecia confuso. Como Maki, uma mulher tão bem-quista poderia andar com tantos esquisitões?

─ Haverá música, comida e bebida pelo restante da noite e... madrugada, senhorita
Ele abre um sorriso, apesar de parecer nada convidativo. ─ No entanto, creio que a festa para alguns... terminará mais cedo. Há outros assuntos a serem tratados

Quando o nome do navio é tocado, ele se vira para Maki, agora sim, com um sorriso verdadeiro.
─ Oh sim, retornamos ao assunto. O Serenidade
─ A senhorita gostaria de vê-lo?

─ Posso pedir uma carruagem ou... irmos até lá, andando

Novamente, Crab passou a ignorar as conversas alheias.