[Aventura] Caranguejo não é Peixe

Caranguejo não é Peixe ─ 01

A ilha de Rumbar. Um território neutro, quase intocável e onde Connor D. Rumbar falecera, deixando descendentes que se multiplicaram como pequenos roedores - muitos destes, desejando seguir os passos de seu antepassado, seja na música ou em sua vida heróica e conturbada. É necessário citar esse lugar, um tanto quanto distante de onde estavam agora, devido ao fato de que, dois dos três membros desta trupe, conheceram-se lá, em meio a uma série de acontecimentos e desenvolvimentos.

Fato é, agora, semanas após estarem juntos sob o mesmo pretexto - aventurar-se, a dupla seguia em direção à uma nova ilha, como... convidados de um Barco de Crab.

Estranhamente, o barão parecia ser um apreciador nato da arte e de Ballywood e ao encontra-la, um convite havia sido feito especificamente para a garota, mas que acabou arrastando seu novo companheiro em uma situação inesperada. Não era inteligente seguir alguém como aquele nobre e, de fato, não o fariam. Não fosse o fato do mesmo ter efetivamente tentado uma aproximação, até oferecer-lhes dinheiro e um barco, caso viajassem até a sua residência.

Apesar de não esperarem que fosse totalmente verdade, talvez decidiram ir por conta da empolgação. Além do que, aquilo poderia ajuda-los no início à vida pirata. Fato é, um fã geralmente fazem coisas impensáveis mesmo.

Haviam sido separados no barco, em quartos diferentes, uma exigência de Crab e, agora, esperavam pacientemente a chegada até a ilha que ocorreria em pouquíssimas horas. Nos dias que antecederam a chegada, Maki recebera tratamento VIP. Nunca havia experimentado tantas guloseimas. Seu quarto era, provavelmente, melhor do que o do capitão (na verdade, era um quarto usado especificamente por Crab Von Fael) e recebia qualquer coisa que pedisse sem demora. Se estivesse dentro do possível, é claro.

Mas quanto a Bellamy? Bem. Por uma ou outra refeição era pulado e, comia o mesmo que os outros homens. Ao menos não precisou trabalhar e, vez ou outra, conseguiam escapar para conversarem.

Quando finalmente chegaram ao destino e atracaram, estavam um tanto quanto enjoados. Tantos dias velejando era absolutamente desconfortável para quem não estava acostumado. Maki estava energética, sentia que aquela ilha árida poderia ser um novo começo. Provavelmente, seu capitão estava da mesma forma. Mas, ao lado do grande barco do barão, havia uma embarcação menor, que havia viajado de Kano até aquele lugar.

Era comum que exportassem Chumbo Tinto até aquelas regiões, mas o que não esperavam era dar de cara com uma garota. Uma estranha garota de cabelos roxos.

A mesma usava um tapa-olho e encarou-lhes por segundos, que pareciam horas. Era extremamente mau encarada.

─ Ei, vocês. Porque continuam parados? ─ Antes que pudessem trocar palavras, um homem de pele escura como o cobre parou frente a vocês. Ele suspirava, como se estivesse entediado. Puderam perceber que se tratava de um... marinheiro e, embora nenhum de vocês tivesse uma recompensa ou o nome estampado por ai, sabiam que estavam do lado de um provável inimigo.

Mas ele sequer estava prestando atenção em vocês. Ou no que haviam feito. ─ O Barão quer vê-la. Por favor, os três, me sigam

E seja por destino ou acaso, aquele homem havia pensado que aquela garota fazia parte do grupo vindo de Rumbar.

Caranguejo não é Peixe ─ 02

Continuaram a andar por alguns segundos enquanto eram liderados pelo Marinheiro.

E, não se enganem: ele ouvia o que cada um falava, mas, sinceramente? Sequer parecia dar-lhe bola o suficiente, respirando profundamente a cada nova frase que considerava tediosa: era como se aquele homem desejasse estar em outro lugar, longe daquele caos criado por Crab. ─ Não é necessário correr. Estamos próxim ─ Antes que pudesse completar a frase, Bellamy, o capitão, passou ao lado do mesmo em alta velocidade e, por um segundo, ele de fato se questionou sobre o que deveria fazer se todos começassem a correr.

Sua cara fora impagável quando percebera o louro se esborrachar no chão, caindo como uma pedra. O silêncio se fez presente por poucos segundos. Ele olhou primeiro para a garota de tapa-olho, depois para Maki e finalmente para o corpo estatelado no chão. Bellamy estava... Roncando?

─ Ele tá bem? ─ Perguntou, abaixando-se ao lado do pirata.
Maki, você havia passado tempo o suficiente para saber sobre o probleminha de sono que o rapazote tem. Mas, sem dúvidas, aquela fora a situação mais engraçada que havia visto. O filho da puta do Bellamy tinha um calombo enorme na testa e simplesmente roncava para todos que pudessem ouvir.

E novamente, o marinheiro apenas suspirou profundamente.


A narcolepsia era algo estranho, mesmo para um corpo já acostumado. Era como um desmaio, de repente e incontrolável. Perdia totalmente as forças de seu corpo e, onde quer que estivesse, cairia para o mundo dos sonhos. Bellamy, você acorda momentos depois e, embora não soubesse definir quantos minutos haviam passado-se, sabia que não mais do que trinta. Seus olhos e mente tentavam entender onde estava e, porque sentia seu corpo em movimento, mesmo depois de acordar.

Apenas quando olhou para baixo e percebeu que o marinheiro o carregava como uma criança - embora o mesmo parecesse ter dificuldades em fazê-lo, percebera o que havia acontecido.

─ Acordou... é? ─ Ele suspirou, parando de andar e se abaixando para que pudesse colocar seus pés no chão.
Antes que pudesse falar qualquer coisa para ele, ao virar-se, a sua frente - e a de todos vocês - fazia-se presente um grande portão dourado, com uma trilha entre jardins floridos e monumentos, próximos a nascentes de água. Era deslumbrante, de fato. E, na verdade, quase inacreditável.

Como era possível manter um lugar como aquele naquele calor escaldante?
─ Nós chegamos ao território do Barão. Peço que me acompanhem de perto a partir daqui. Não é muito difícil se perder ─ Ele avisava.

Caranguejo não é Peixe ─ 03

Os portões abriram-se vagarosamente, enquanto observavam a parte interna daquela localização. De imediato, não era crível acreditar que cada parte daquele lugar pertencia a um único homem e, a curiosidade de todos crescia quanto ao tal Barão - Fã de Maki. Como um homem tão poderoso poderia viver numa zona tão árida e sem vida?

De toda forma, havia sido um convite e tanto até aquele breve momento: ao menos para a garota, que havia recebido tratamento VIP desde o primeiro momento.

O capitão Bellamy, contra tudo que haviam falado para si, decidiu seguir por conta própria, pegando a primeira direita e, finalmente, a segunda esquerda. Todas as ruas pareciam iguais naquele lugar e, o que piorava ainda mais era seu senso de direção. Apenas dez minutos depois de andar sem rumo, provavelmente já não fazia a menor ideia de onde estava.
Mas era belo e muito convidativo. Mais daquele jardim e... Outras pessoas?

Todos trabalhavam, conversavam, mas ao o virem, o silêncio fez-se presente.

Alguns se levantaram e o cumprimentaram desajeitosamente, como se o temesse profundamente.
─ O... senhor deseja algo? ─ Um deles decidiu tomar a frente da situação e perguntar aquilo diretamente.


Vocês duas seguiram em conjunto pela rua, até finalmente enxergarem a propriedade. E, se antes, haviam achado o lugar maravilhoso, aquela mansão era absolutamente chamativa e desnivelada com o restante da ilha. Era como se, de fato, o Barão desejasse que todos entendessem e percebesse o quão era rico. Próximo a porta, poderia perceber uma comitiva de empregados a vossa espera. Pararam centímetros a frente de uma escadaria que levaria-os até ali, mas antes, o marinheiro parou e olhou para trás.

─ Onde está o amigo de vocês? ─ Ele perguntou. Mas antes que pudessem levar aquilo a sério - se é que o fariam, ele deu de ombros. ─ Bem, não é como se fosse o fim do mundo. Meu irmão está patrulhando. Provavelmente o encontrará

Em um segundo, todas as domésticas começaram a descer, indo até ambas. Como um tratamento VIP, massagens e diferentes comidas e bebidas começavam a ser oferecidos. O marinheiro que outrora as acompanhava, simplesmente recuou e entrou por uma pequena porta, ao lado da entrada principal.

─ São os convidados do Barão, certo?
─ Por favor, aceitem nossa hospitalidade!

Ambas eram guiadas pela escadaria, passando por uma bélissima porta. Dentro da mansão, cada comodo e móvel parecia ser desenhado para complementar o ambiente. Tudo era fino e belo.

Caranguejo não é Peixe ─ 04

Ambas eram levadas para uma grande mesa, onde outros surgiam para paparicar-lhes. Seja o que for, o que estiverem pensando para comer, beber ou mesmo vestes, eles trariam a frente de ambas as garotas, para que simplesmente pudessem servi-las da melhor maneira possível. Era como um show orquestrado: um tanto quanto assustador.

─ O Barão? Bem... Ele está em uma reunião e creio que deverá chegar antes do anoitecer, para o jantar
─ De toda forma, não se preocupe com isso, Senhorita Maki! Aproveite nossa hospitalidade. Há algo que deseja, além disso? ─ Perguntou, referindo-se a bebida em sua mão.  Pelo rosto da mulher que havia falado - uma quarentona magra, de lábio carnudo e uma pinta ao lado do nariz, aquela bebida não era lá a melhor que poderiam oferecer.

─ Uma bebida um pouco mais... requintada! Acho que combinaria muito melhor com uma Dama como a senhorita! ─ Ela continuou.

Quanto a você, Nezha, embora ainda fosse paparicada, sua carranca era mais que o suficiente para afastar qualquer um de uma aproximação um pouco mais inter-pessoal. Quando perceberam que comida era a chave para um tratamento adequado para ti, diferentes pratos começaram a surgir da cozinha. Peixes, Caranguejos e até algumas espécies de lagarto.
─ Espero que esteja apreciando nossa hospitalidade, senhorita... ? ─ Ele perguntava seu nome de maneira indireta.

Minutos passaram-se daquela forma até que em algum momento, foram levadas para um grande quarto. Havia uma cama de casal com uma cortina transparente presa em cada um dos lados e móveis igualmente finos. Se uma de vocês decidissem sentar-se na cama, perceberia rapidamente que aquilo dava-lhe uma sensação incrível. Como a de estar sob o céu, nas nuvens.

─ Creio que seja a hora de prepara-la senhorita. Para o Jantar. Venha! ─ Ela pegou-a pela mão, levando-a até um guarda-roupa incrível. Estava repleto de diferentes tipos de vestidos, além de... uma réplica - ou talvez, até mesmo a própria roupa de um dos filmes que havia feito e protagonizado.

─ Escolha uma, qualquer uma!

Quanto a Nezha...
Ainda carrancuda, era acompanhada por um homem de cabelos louros e olhos azuis. Ele mantinha a distância necessária.
─ Deseja seguir até o seu quarto também, senhorita? Vestir algo um pouco menos velho? Ou algo para comer?


Você não era o ser mais inteligente do mundo, mas estava longe de ser o mais idiota também.

Fato é, sua presença havia sido sentida e todos os olhos encaravam-lhe com mistos de sentimentos. Havia curiosidade, surpresa e... medo. Não esperava encontrar aquele tipo específico de sentimento, uma vez que tudo o que haviam mostrado até o breve momento era riqueza e tratamentos 'incríveis' - ao menos para a sua colega.

Suas palavras quebraram o silêncio após a primeira pergunta e, então, o mesmo que respondera-lhe andou até uma mesa de madeira, enchendo um copo de vidro com água. Ele levou-o até ti e entregou, ainda observando-o.

─ Creio que esteja perdido. Há algo que possamos oferecer?
─ Não me parece alguém que vem até estes lugares... se é que você me entende ─ Mais detalhes são possíveis de se ver. Cada uma daquelas pessoas, os trabalhadores, pareciam miseráveis. Ossos saltados em sua pele e marcas do que pareciam ser... chicotadas em alguns dos mesmos.

Crianças também estavam trabalhando, o que parecia ainda mais algum tipo de piada de mal gosto. Novamente, sua frase - agora a segunda, citando Crab - parecia pegar todos de surpresa. Alguns tossem, outros se encolhem. Muitos simplesmente voltam a trabalhar.

─ Senhor. Sinto que está muito longe de casa, no entanto, se posso dar-lhe uma sugestão
─ Acho que devemos conversar em um tom um pouco mais baixo. E... não deveríamos conversar sobre o Barão

Antes que pudessem evoluir na conversa, passos entre um matagal morto chama a atenção de todos. E, de lá, surge uma nova silhueta. Aquele homem era absolutamente horrível. Cada traço de sua aparência parecia um erro. Dentes tortos e amarelados, cabelos desgrenhados e magricela. Sua roupa era de alguém da marinha. Seto era uma figura singular, de maneiras distintas. Começou a andar tropeçando, enquanto ria. Ki Ki Ki ─ E então, próximo o suficiente, olhou-os sem expressão.

─ Se tem tempo pra conversa, tem tempo pra serviço. Voltem, todos ─ E rapidamente, mesmo aqueles que eram maiores e mais fortes do que aquele homem, voltaram ao serviço. O medo que antes era um sentimento 'raro', tornou-se quase palpável.  Seto então virou-se para ti.

─ E você, moleque. Porque não tá trabalhando? ─ Sua voz tinha um tom irritante, além de certamente possuir algum tipo de problema de fala. Talvez sua língua não tivesse sido totalmente desenvolvida.

Caranguejo não é Peixe ─ 05

Seto permanecera por poucos segundos, com braços cruzados e um sorriso desdentado. Observava-os com um certo ar de superioridade, enquanto continuava a soltar risadinhas vez ou outra, mas em algum momento, outro som o alertou e ele começara a andar em outra direção, deixando-os sozinhos novamente, por mais algum tempo.

Não havia entendido exatamente oque havia acontecido até aquele breve momento. Sua mente tinha dificuldades em assimilar tudo que havia visto antes, para o que tivera acontecido desde sua chegada naquela zona de trabalho. Muitos sussurravam dúvidas sobre o por que de estar ali e, de quando havia chegado. Talvez fosse algum novo morador e escravo de Crab? Mas, como não sabia de nada?

O senhor, o mesmo que respondera minutos antes, puxava uma enxada com dificuldade, arando terra e despejando de um saco de tecido, algo que não cheirava nada bem. Ele relaxou quando Seto sumira e começou a te auxiliar em como trabalhar corretamente, enquanto olhava ao seu redor. Provavelmente esperava o melhor momento para retornar aquela conversa.

Mas, você o fez antes. ─ De certa forma, creio que ele já está ─ Ele deu uma leve risada.
─ É um maldito guarda. Um psicopata, na pele de um guarda na verdade

─ Espere o irmão dele chegar. O Tenente Zerra. Ele vai poder leva-lo de onde veio
─ Mas... não responda Seto. ─ Ele tentava te alertar, colocando uma mão sob seu ombro. ─ Aquele desgraçado é feio tanto dentro como fora

Outros juntaram-se a você, enquanto trabalhavam.

─ Como é seu nome? De onde veio?
─ Vai começar a trabalhar conosco? ─ Pareciam muito curiosos quanto a sua presença por ali.


Nezha aproveitara bem a hospedagem que lhe fora garantida. Tomando um banho, trocando suas mudas de roupas velhas e surradas e, claro, aproveitando para que pudesse exercitar-se. O mordomo que a acompanhara observava-a mantendo ainda alguma distância e, um tanto quanto quieto. Como um robo.

─ A senhorita também é de Ballywood? Uma atriz? Creio que eu nunca tenha visto seu rosto em qualquer filme. ─ Comentara. Parecia verdadeiramente curioso sobre. Especialmente por conta de toda a sua aparência.
─ O tapa-olho... é de verdade? O que aconteceu com os seus olhos?

Ele era direto, mas ao menos, daria para ter uma boa conversa se desejasse.

Maki, até aquele breve momento, não havia dado tanta importância para o sumiço de seu capitão, mas com o tempo passando, rapidamente a indiferença tornou-se um certo temor. Sabia o quanto aquele rapaz poderia ser terrível e, em um pensamento que quase gelou sua espinha, pensara na possibilidade de Bellamy acabar por arranjar briga e perderem todos os presentes de Crab.

Nesse momento, decidira pedir para aqueles que estavam por ali, irem atrás dele.
─ O que veio com a senhorita? ─ Perguntou.
─ Vou pedir para que procurem-no imediatamente, senhorita! ─ A primeira respondeu, saindo do quarto com urgência. Em minutos, uma pequena caravana de mordomos saíra da casa, com o intuito de o encontrar.

Ao vestir-se plenamente, a mesma mulher de aparência singular surgira, trazendo um frasco.
Ela ouviu seu pedido, mas praticamente ignorou.
─ Ora, não se preocupe querida. Em breve trarão o rapaz de volta. O que ele é? Irmão? Guarda-costas? ─ E rapidamente começou a esguichar em seu corpo, um perfume muito adocicado.

─ É importado, a senhorita vai adorar!
Aquilo começava a irritar o seu nariz e começaria a espirrar em segundos.