Mercado de Peles

As suas palavras, Attila, que recitavam a primorosa e respeitável lei, eram acompanhadas de uma risada sarcástica enquanto o homem encapuzado engatilhava o revólver em sua mão, mantendo a mira sob seu grande corpo. - Você deve tá brincando é? Qual foi Doni? Já esqueceu o que aconteceu com os seus outros amigos todos aqueles anos atrás? O Velho Zap ainda se vangloria de como ele espalhou os miolos do mais novinho por todo beco no centro. A voz do homem partia de um tom de zombaria pra um tom sério de ameaça. - Ou você faz o grandalhão aqui recuar, ou tudo vai se repetir Doni.

Damon, você nota o olhar melancólico e a hesitação de Doni, com uma pontada de pânico fundo nos seus olhos. Talvez devido à pressão do momento, contra todas as expectativas, é você que se põe à frente e chama a atenção de todos com sua fala e dos raios de energia roxa que disparam de suas mãos, atingindo tanto Attila quando a pequena coelha que, naquele momento, quase tinha alcançado a borda de um telhado.

Attila, após escutar as palavras de Damon, você sente seu coração tremer e seu corpo se tornar pesado e desconfortável. Se olhasse para si, notaria que manchas cinzas tinham se espalhado em locais aleatórios de seu corpo e uma sensação de dormência emanava de tais locais.

A pequena criatura que quase experimentava o sabor da liberdade sofre um destino ainda pior, o raio a paralisa no momento mais crucial de sua fuga, a fazendo errar a borda do telhado e sofrer toda a queda até o chão do beco. - Ei, seu estúpido, cuidado com a mercadoria. Quem grita é a mulher que, mesmo imobilizada por Attila, não parecia preocupada com vocês, no fundo do seu olhar você percebia que eles acreditavam serem intocáveis.

Se olhassem para o canto do beco, ainda poderiam ver a pequena criatura tentando fugir, arranhando sem sucesso a parede do beco com um de seus braços, enquanto o outro parecia virado em um ângulo completamente antinatural. - Solte ela, Soldado Attila! Por fim, o Cabo Donatello quebra o silêncio, lhe dirigindo uma ordem firme para, talvez, o único verdadeiro homem naquele beco.

Algumas pessoas podiam acreditar que palavras eram o suficiente para mudar a disposição natural de uma pessoa, mas a verdade não podia ser distorcida por tais pessoas de caráter fraco… Ao menos era assim que as pessoas mais ingênuas acreditam que o mundo é, infelizmente a verdade poderia ser um tanto mais decepcionante, era o que seria posto à prova naquele momento.

Attila tentava avançar em direção à criatura semi petrificada e imobilizada no chão, ainda insistindo naquilo que seu coração acreditava ser o certo, mas seu corpo agora petrificado não respondia com precisão ao seu desejo, não que, com sua agilidade pífia, o grandalhão tivesse alguma chance de se mover com velocidade suficiente. Sua tentativa de atrapalhar o homem encapuzado com a arma, ao arremessar para ele a mulher atrevida, teve seu sucesso limitado, mas apenas atrapalhou a mira do homem por tempo suficiente para que Attila desse um ou dois passos e então o sonoro barulho de uma arma dispara podia ser escutada.

Por sorte, o tiro do encapuzado foi dirigido ao chão à frente do careca barbudo e, por enquanto, Attila permanecia ileso, mas o aviso tinha sido dado e o grandalhão podia sentir o olhar frio do encapuzado cair sobre si. - Nem mais um passo, idiota. Resmungava o homem.

Do outro lado, Damon começava seu discurso buscando dissuadir Attila. Mas no seu coração o marinheiro sabia a verdade, como algo que chorava e se agarrava à vida podia ser um mero monstro? Homens que zombavam da justiça na sua frente e os ameaçavam com armas eram as vítimas? Por mais belas que fossem as palavras que afirmavam isso, quem acreditaria nelas?

A mulher e o rapaz que permanecia encapuzado, por outro lado, pareciam apreciar a resposta de Damon com certa zombaria. Você percebia Damon que para eles a marinha era nada mais que uma piada. - Ao menos um dos limpadores de chão sabe seu lugar. Brincava à mulher, mas o encapuzado respondia num tom bem mais sério. Agradecemos pelo seu bom senso. A voz era fria, mas o homem parecia reconhecer você, ou ao menos o poder de sua fruta, e o respeitava por isso.

Donatello olhava para você, Damon, com um olhar de estranheza, talvez, lá no fundo de seus olhos, decepção? Ainda sim suas palavras ressoavam com as suas. - Vamos soldado Attila, como seu colega disse, precisamos entender a situação antes de agir. O tom do homem tinha um gosto de resignação inegável.

Os capangas olhavam atônitos para o discurso de Damon tentando entender exatamente as intenções do homem. Lei? Essa era uma palavra que não tinha significado há muitos e muitos anos em Goudham City. - Vocês não acham que estão falando demais? Interrompe a voz fria da mulher que os encara com um olhar bastante sombrio, talvez cansada desse espetáculo todo. - De onde vocês saíram, hein? Vocês estão em Goudham City, vocês não sabem quem manda nessa ilha e decide a justiça? Façam como todos os bons marinheiros fazem e continuem a passear pelas ruas como se não tivessem visto nada, e poupem meu tempo! Quase ordena a mulher, num tom que claramente demonstrava o mais absurdo dos sentimentos naquela situação: insatisfação, era quase como se vocês fossem servos dela e ela os tivesse tendo que repreendê-los.

Enquanto a mulher falava, o homem encapuzado se aproximava do pequeno ser de pelugem outrora branca, mas agora negra pela sujeira do chão em que tinha se arrastado. - Você vai pagar por todo esse problema. Resmunga o homem enquanto pega a criatura e a joga em seu ombro. Por um instante, apenas o choro agudo da criatura preenche o silêncio naquele beco.

Donatello lhe encarava com olhos frios, você podia perceber que seus punhos tremiam sob o casaco e era quase audível seus dentes rangendo. O homem claramente não sabia qual reação tomar agora, parecia perdido no seu próprio dilema e talvez nem tivesse escutado suas palavras.

Já Attila é forçado a encarar toda essa cena enquanto se sente afundado em impotência, mesmo que lutasse para alcançar a criatura, sua velocidade, que nunca fora um atributo que poderia se orgulhar, se via agora restringida pelos poderes misteriosos de Damon, e conseguia dar apenas lentos passos, um a cada vez, incapaz de reagir de forma ativa. A moça também lhe dissuadia de qualquer ação extrema ao pegar um revólver de suas vestes e lhe pôr novamente na mira. - Melhor não tentar mais nenhuma gracinha, Sr. Músculos. Sumam daqui!