Aventura ─ Um dia na prisão.

Le Petit
Soldado da Marinha
Post 01

O dia começava cedo para mim. Muitos me olhavam 'estranho', alguns até mesmo deixavam escapar alguns comentários maldosos. Eu era o ''novato que queria impressionar'', o ''puxa-saco''. Mas... Eu não havia ingressado na Marinha para ter uma vida tranquila no Distrito do Rio Claro, eu estava ali pra fazer a diferença, e para isso eu precisava tornar-me alguém; e de preferência, precisava fazê-lo rápido.

O sol sequer havia dado sua graça no momento em que eu saia da cama. Eu vestia-me e, pelos ainda infamiliares corredores do Q.G., traçava meu caminho em busca de um local reservado e preferencialmente limpo.  Polichinelos, Agachamentos, Stiffs, todo tipo de exercício focado em desenvolver minhas pernas como de praxe. O treino iniciava e não viria a parar até as horas iniciais do dia dos 'normais'; o sol chegava, oque tornava as coisas ao menos um pouco mais aconchegantes.


Dada a hora, eu retornava para as instalações da Marinha. Algumas continências enquanto passava por superiores, e alguns 'olás' mais casuais quando passava por outros soldados. O dia parecia começar de vento em popa, e enquanto eu passava em busca de uma ducha, eu acabava por passar pela lousa.  Minha feição parecia um pouco desacreditada ao ver as atribuições. Eu me pergunto o estado que aquilo está para terem fechado só para limpeza... Corria pela minha cabeça, enquanto eu literal chacoalhava a mesma em uma tentativa de afastar o pensamento. Eu prosseguia meu caminho, e de banho tomado, tornava até as instalações de manutenção para buscar os equipamentos que eu julgava necessário. Rodo e vassoura partilhavam minha mão esquerda, enquanto um grande balde cheio de água com sabão com alguns panos e duchas 'penduradas' nos cantos monopolizava a esquerda. Eu tornava meu caminho até o campo de treinamento, abrindo relutantemente a porta da área interna, quase como quem 'espia' para dentro da sala.

Considerações:

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Post 02

A figura de Asimov era algo um tanto quanto conflitante em minha cabeça... Crescido no Rio Turvo, a 'mão amiga' da Marinha nunca se fez presente em minha criação; na verdade, muito pelo contrário. Mas nos corredores do Quartel, e principalmente nas ruas de Rio Claro, o homem parecia uma unanimidade. Bom, parecia, afinal eu sabia que Katerine havia algum tipo de 'picuinha' com o homem... E ela era especialmente popular dentro da corporação, então duvido que fosse a única. Apesar disso, eu nunca havia sido capaz de descobrir exatamente qual o problema. As dinâmicas em Ilísia pareciam complexas, e eu sequer imaginava quantos 'tentáculos' estavam envolvidos naquela briga por poder.

Mas... Eu não era um deles. Bingo... Passou em minha cabeça. Fechei a cara após espiar o ginásio, fechando a porta quase que instantaneamente. — De doutor a isso... — Bufei. Eu desamarrava o longo lenço azul de meu uniforme, apenas para coloca-lo em minha cara e fechar um nó em minha nuca, atrás de uma máscara improvisada. Eu entrava no lugar e começava a mapeá-lo, buscando por alguma torneira ou pia que eu pudesse usar para limpar os panos enquanto usava. De início, eu também deixava os itens de limpeza de canto, priorizando organizar os equipamentos e objetos deslocados; afinal, caso os deixasse, eles ficariam no caminho durante a limpeza. Mas havia um limite de quanto tempo eu conseguia ignorar o fedor...

Com o 'bruto' retirado do caminho, eu focaria na limpeza do chão. Eu encharcava um pano na água, enquanto despejava um pouco de sabão sob o chão em uma linha reta. Uma vez que completa de uma ponta a outra da sala, eu esticava o pano sob o chão e apoiava minhas mãos sob cada ponta do mesmo, assumindo uma posição muito semelhante a de uma largada de atletismo. Um respiro profundo e eu partia em velocidade máxima tentando seguir a linha de sabão da forma mais estável possível; eu o fazia não apenas para limpar mais rápido, mas também para tirar algum exercício daquilo. Eu repetia o processo até que todo o 'solo' do lugar fosse coberto; também fazendo questão de dar algumas pausas para, justamente, não 'sujar' de suor o processo.

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Post 03

O susto era visível em meu olhar com a abertura da porta. Eu dava alguns passos para trás conforme abria espaço para os homens, embora não pudesse deixar de ouvir alguns comentários 'impertinentes' escaparem. Uma veia em minha testa saltava, enquanto eu mantinha o mesmo sorriso de sempre. Eu encarava o grupo por alguns instantes, antes de desviar meu olhar de volta para o cômodo. Talvez eu devesse... E antes que qualquer outra coisa passasse em minha cabeça, eu sentia minha barriga chacoalhar; voltando meu olhar aos homens, envergonhado. — Está finalizado, sim, só coloquem os equipamentos no lugar certo quando terminarem... Por favor. — Dizia, voltando a recolher minhas coisas antes de, enfim, seguir meu caminho.


Eu fazia trabalho rápido em guiar os equipamentos até seus devidos lugares, alguns até ainda um pouco sujos, frutos de uma 'pressa' que correspondia minha fome. Se desimpedido, eu traçava meu caminho até o refeitório, mais especificamente á fila da cantina, um pouco apreensivo do que estariam servindo hoje.

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Post 04

Algumas novas veias saltavam conforme as palavras dos mesmos se seguiam; mas eu não era burro o suficiente para arranjar um problema em meus primeiros dias de 'emprego'. Bom... Vendo em retrospecto, eu sequer os culpava; eu realmente tinha muita coisa a provar até que compensasse minha falta de estatura no imaginário dos outros. Mas mesmo dizendo isto, não amenizava o quão frustrante era ouvir aquelas palavras. Eu bato nos cinco de braços-amarrados e estomago vazio, filhos da p- Era oque passava na minha cabeça. — Quem sabe outra hora, hehe. — Um sorriso vazio, uma risada sem graça e uma batida da porta era oque encerrava a interação com os homens.

Eu deveria ter previsto, mas o almoço seriam os restos de um buffet que normalmente não era tão apetitoso assim. Eu 'vasculhava' o recinto em busca de rostos conhecidos, e provavelmente fracassava. A quem eu queria enganar, apesar de convidado, eu estava sozinho no lugar. Oque será que ela está fazendo? Enquanto arrumava os pratos e talheres na mesa, minha mente brevemente pensava em Katerine. Não por motivos como interesse ou algo do tipo, mas uma genuína curiosidade; eu não me incomodava em limpar o chão e ouvir comentários irritantes, desde que estivesse fazendo algo que realmente importava; pelo menos no grande esquema das coisas.

Eu ainda não havia me familiarizado o suficiente com as instalações do quartel, então sequer sabia se havia uma ala médica ou algo do tipo. Talvez fosse hora de tentar usar o único contato amistoso que eu tinha dentro daquele lugar para algo benéfico, que fosse ao menos entender como toda a dinâmica daquele lugar funcionava. Eu finalizava o almoço, organizava meus 'restos' e levava-os ao local adequado; começando a perambular pelo quartel na busca da 'sala' da Tenente.

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Post 05

A 'fofoca' chamava atenção de meus ouvidos e, acompanhando o interesse com os olhos, acabei parando brevemente meu movimento dando de cara com o mural. Pela 'muvuca' havia uma novidade por ali, e ao pescar na mente por alguns momentos oque poderia ser, acabei me lembrando da fama do lugar. Eu começava a caminhar sem muita pressa, principalmente após assistir os comentários receosos por parte dos marinheiros reunidos.

Alguma novidade? — Eu anunciava minha chegada na mesma medida que fazia meu caminho até o quadro, desviando de alguns 'corpos' desatentos e tentando visualizar a proposta que era tão comentada.

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Post 06

Ao ouvir da prisão, meu semblante se fechava de forma quase que imediata. Eu nunca havia topado com Henrich, mas... muito de minha tragetória na vida até ali eu devia a Zaz Seis-Dedos. E, dentre todas as coisas que eu enxergava como erradas dentro da marinha, o homem que cuidava da prisão em Ilísia era até então a maior delas. Mas, em contra-partida, aquela oportunidade talvez fosse a melhor coisa que eu conseguiria durante um bom tempo para alavancar minha posição dentro do quartel; e, no fundo do poço como estava, era sem dúvidas alguma do que eu precisava.

A dúvida era visível em meu semblante até eu ver o garoto, enfim, tomar postura; e somente naquele momento em que minha mente parou de pensar em mim e se deu conta dele. Tão pequeno quanto, e definitivamente mais jovem... Oque será que passava na cabeça dele em acatar algo tão, teoricamente, perigoso, sem sequer pensar duas vezes. Meu olhar percorria o local quase que no mesmo momento, decepcionando-se na mesma medida; ninguém ali iria se mexer um centímetro. Que saco... Eu já lamentava oque iria vir a seguir.

Eu dava alguns 'pulinhos' para alcançar o garoto, colocando minha mão sobre seu ombro. — Ei! — Exclamei, buscando sua atenção. — Eu vou com você. Mas preciso fazer algumas coisas no quartel primeiro, se importa de me acompanhar? Não vai demorar muito. — Eu o convidava, já que era ele quem detinha o papel da tarefa em mãos.

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Eu deixava escapar um sorriso dada a reação do garoto, enquanto apontava com o dedão por cima de meu ombro que caminharíamos no sentido oposto do mural; eu ainda havia algumas dúvidas a tirar com Katherine, e talvez conseguir um alerta ou dois sobre o que me esperava na prisão. Conforme começássemos a caminhar na direção da sala da Tenente, eu não conseguiria evitar em observar um pouco o garoto; e, em determinado momento, deixaria minha curiosidade escapar além da minha cabeça. — Então... Você parece jovem, certo? — Eu deixava escapar uma 'olhada' de canto, com um olhar curioso para o mesmo. — Digo, beeem jovem... Oque te levou a ingressar á marinha tão cedo? — Finalizava encarando o garoto, esperando sua resposta.

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Ele era um pouco mais velho do que inicialmente eu pensava e, sua postura demonstrava o 'auge' de sua adolescência. Eu abria um pequeno sorriso ao ouvir a resposta, apenas para aos poucos fechá-lo no prosseguimento de sua próxima resposta. Era algo bobo, sim, mas... Aquela pergunta me revelava muito mais do que qualquer outra que eu pudesse fazer, para ser honesto. Marinheiros por vezes ocupam a mesma posição e, teoricamente, tem a mesma função — mas os fins que buscam, e os meios que os fazem pode mudar completamente de um marinheiro para outro. Isto via-se ainda mais enraízado em Ilísia, com a invisível disputa entre os métodos do Capitão e da Tenente.

Existem pessoas que se alistaram em busca de fama e/ou uma vida fácil, afinal, tais quais Yonkous ou Shichibukais, os Almirantes sentam-se no topo da 'cadeia alimentar' como um dos três poderes. Existem também aqueles que estão ali, de fato, para ajudar os outros, embora provavelmente sejam os que menos durem... Eu mesmo me encaixo neste espaço e, no pouco tempo que passei no Quartel de Ilísia, já tive um ou outro motivo para me decepcionar. E existem aqueles como o garoto, movidos por ódio à piratas. Eu sequer imaginava oque havia se passado para que o menino tomasse a decisão de dedicar sua vida à vingança, como ele mesmo dizia, e não me sentia no direito de perguntar.  — Meu nome é Olivier, por sinal. E o seu? — Eu enfim me apresentava, quase que num artifício para mudar de assunto; não que este durasse por muito mais tempo, já que enfim chegávamos á porta de Katerine.

Minha relação com a mulher era algo um tanto quanto confuso, para ser sincero. Não nos conhecíamos bem, apenas nos encontrando em algumas instâncias em função de meu passado como Doutor, um dos poucos atuantes no Rio Turvo e provavelmente o único que atendia Marinheiros por aquelas bandas. Foi em um daqueles encontros que enfim houve o convite formal para que me alistasse na Marinha, e desde então, tento criar meu próprio caminho dentro do QG de Ilísia; contando com a mulher como, até então, minha única 'amiga' ali dentro. — Soldado Olivier se apresentando, senhora! — Na medida que a mulher atendia a porta, eu assumia a posição de continência; aguardando a autorização para prosseguir. — Você... tem alguns minutos? — Disse, encarando o interior da sala.

Considerações: