[AVENTURA] - A primeira chama

A primeira chama ─ 01

As chamas consomem sua visão, o mais puro desespero invade seus tímpanos, choros e soluços ecoam, berros ensurdecedores, Lotte se agacha tampando as orelhas, fecha seus olhos, a escuridão de repente toma forma, grilhões tintilam, o som de um “click”, o frio do metal em suas asas, olhando para trás o rosto maligno de Otto:

- Você achou que era gente? Pobre coisa você RARARARARARARA!!!

Uma voz distorcida que fica cada vez mais alta, a gargalhada daquele homem, a lunariana levanta seu tronco rapidamente, respiração ofegante, seu corpo lavado de suor, mais um pesadelo, mais um dia em que aquela maldição atormenta seu sono.

Lotte está em um quarto simples, uma pequena estalagem em Rumbar, ilha próxima a Undead London, seu próximo objetivo, olhando ao redor a garota volta a realidade aos poucos, ao chão do quarto próximo a porta de entrada está um envelope, ao abrir, um papel em branco dentro, um pequeno truque dos revolucionários, colocando o papel contra a luz pode ler:

“Como já dito sobre a missão U - 115, uma embarcação lhe espera ao extremo sul de Rumbar, o código ao velejador é “tamborim”, não perca tempo e mantenha nossos protocolos de segurança. Saudações G.”

Hoje já era o dia marcado de sua partida, uma bela manhã começa em Rumbar, sons ritmados de tambores podem ser escutados pelas ruas.

— Você achou que era gente? Pobre coisa você RARARARARARARA!!! —

Mais um maldito pesadelo. Mesmo que eu tenha me libertado das pessoas "ruins" que me feriram há algum tempo, meu sono nunca foi o mesmo e creio que nunca será tranquilo. Enquanto eu viver, estarei ameaçada. Malditas asas negras.

Bom, mas não sou eu quem faz as regras, apenas as sigo. E, graças aos traumas, nunca estou cem por cento pelas manhãs e prefiro os acontecimentos noturnos. Mas, infelizmente, não posso mais escolher.

Sendo uma missão séria, a primeira diga-se de passagem, sinto um pouco de nervosismo, pois literalmente me lançaram no mundo com apoio bem fraco e algumas direções a seguir. Espero estar à altura dessas expectativas.

Já sabendo da missão e tendo lido a carta com os detalhes, e pelo amor, adoro quando eles me lançam esse tipo de truque. Sinto-me uma verdadeira insurgente. Será que vou ganhar algum parceiro ou item mais raro no futuro? Quem sabe, né.

Ouvindo os sons de tambores, me coloco de pé e pronta para partir em direção ao desconhecido. Mas, ao menos, com as direções corretas desse "desconhecido". Preciso lembrar do meu treino: "Visualizar", "Avaliar", "Calcular", "Agir". Sempre gostei de chamar isso de VACA, mas são siglas separadas, infelizmente:

— É isso, VACA neles.

Considerações:

A primeira chama ─ 02

Os pequenos truques estão sempre presentes nos revolucionários, em tempos de soberania dos governos autoritários um grupo com diferentes ideais deve se articular pelas sombras, motivo esse para a garota alada ter parado em Rumbar antes de ir diretamente ao seu destino final.

Uma animação levanta a garota da cama, sabia que hoje era seu último dia da estadia na ilha musical, juntou seus pertences, veste uma capa longa que esconde suas asas, ao descer uma recepcionista com cara de sono encara o vazio na recepção, Lotte deixa as chaves com a moça e logo seu estômago se manifesta requerendo alimento.

Saindo pela porta da frente, a vista é algo bonito de se ver, uma cidade movimentada, muitas pessoas indo e vindo, muitos batuques, cantores e instrumentos de corda são escutados e animam o dia de todos ao redor, o tambor que escutava anteriormente agora chama sua atenção, ao lado da pousada está um grupo com três homens em roda tocando seus grandes tambores, um quarto homem toca um instrumento singular um arco com uma corda tensionada e na base uma estrutura redonda e ao centro dois homens dançam e giram, apoiando as mãos ao chão e balançando suas pernas, alguns transeuntes param para assistir um pouco.

Esses dias em Rumbar lhe deram conhecimento de alguns lugares, sabia que existia uma espécie de padaria nas proximidades, o caminho para o barco ao sul não era longe, existia um pequeno e velho cais utilizado por sua organização, seguindo em frente teria uma feira de rua com muitos comerciantes, barracas e claro mais música.

— odeio ter que comer por dois, eu e meu ego —

A minha fantasia parece estar funcionando. Nunca imaginei que minhas asas seriam tão facilmente escondidas. Tudo bem que não ficam tão evidentes assim, mas as pessoas realmente tendem a não se importar com os outros, ao menos em cidades grandes. Em cidades pequenas, tenho de redobrar o meu cuidado.

Deixo a estadia, entrego as chaves e vou em direção ao que estava faltando dentro de mim. Um buraco se faz no meu interior: alimentação. É isso que me falta, e ainda por eu comer muito mais que uma pessoa comum, minha fome parece não ter fim.

Gostaria de ter a chance de conhecer essas pessoas melhor, mas infelizmente não é parte da missão. Acho que salvá-las da perdição deve ser o suficiente, mas ainda me dói não ser e nem poder ser reconhecida pelos meus feitos.

A cidade é bem animada. Faz muito tempo que não tenho uma visão dessas, pessoas felizes. Parece que, quando não há marinha nem governo envolvidos, as pessoas são mais felizes. É sempre bom ver esse tipo de festa. Me faz lembrar por que eu luto tanto. Espero um dia poder ter uma festa com mais membros da minha raça.

Enfim, melhor me controlar. Não posso perder o meu foco. É minha primeira missão solo; não posso me dar ao luxo de cometer erros. Posso ser capturada novamente, e de jeito nenhum vou voltar a usar correntes, a não ser uma corrente de ouro aqui ou outra ali, uma pulseira de prata, ou até mesmo bronze, que combina muito com meu tom de pele.

Percebo que acabei sorrindo sozinha com meus últimos pensamentos, então devo continuar a camin… AI MEU DEUS, AQUELE CARA ESTÁ DE CABEÇA PARA BAIXO???? CARALHO, QUE MANEIRO! Será que eu consigo fazer igual? Não, isso é uma ideia idiota. Eu preciso me manter focada.

Meu deus, eu sempre me distraio muito facilmente. Tenho que melhorar isso. Imagina se eu falho uma missão porque fiquei o dia inteiro vendo artistas na rua. Mas não posso fazer nada se eles são tão habilidosos, né? Enfim, minha barriga ainda está roncando. Preciso ir naquela padaria que visitei antes. Acho que um quilo de pão é o suficiente para eu me alimentar.

Porra, esqueci que não tenho dinheiro nenhum. Será que eles aceitam favores como moeda? Será que consigo trocar algum serviço por um saco de pão? Acho que deve ser demais. Enfim, não adianta nada ficar ponderando. Preciso ir até o lugar. Tomara que minhas preces sejam atendidas.

Considerações:

A primeira chama ─ 03

O clima de Rumbar é contagiante, muitas pessoas alegres, música, ritmos e caras de cabeça para baixo, depois de um bom tempo se perdendo com as atrações ou melhor distrações que a ilha tem a oferecer, os revolucionários lhe deram dinheiro para alimentação, a única questão é que o dinheiro foi pensado para os 4 dias que ficaria na ilha, nas mãos de Lotte durou apenas 2, mesmo que seus gastos tenham sido honestos apenas em comida.

A angelical garota caminha por alguns minutos até a padaria, ela não é necessariamente a mais próxima, porém ela a conquistou pela aparência e o cheiro maravilhoso de pão assado, ao entrar os expositores demonstram muitos doces e diversos assados que perfumam o ar, a atendente sempre simpática lhe cumprimenta com um doce sorriso, já tinham conversado nas outras refeições que Lotte havia feito no local.

- Bom dia madame, como você está hoje?