Ippi D. Tergent

__Ippi Dandan Tergent, era considerado uma criança exemplar, tinha ótimas notas na escola e sempre acompanhava sua família religiosa para os cultos sem falta. Talvez sua dedicação com estudos e a igreja fossem alguma forma de preencher um vazio que sempre sentiu. Tudo isso mudou quando em um belo dia, o regente da igreja foi alterado, o antigo parecia ter se envolvido em algum tipo de questão com crianças, era o que as fofocas diziam. No lugar, chegou o reverendo Valdemiro, e em sua primeira pregação o sujeito falou tanta asneira, tanta merda, que deixou Ippi extremamente irritado. Ele saiu da igreja ao final do culto com aquele sentimento de raiva em si, até que um bêbado trombou com ele e começou a arrumar confusão. Nesse momento, Ippi empurrou o homem que caiu sentado, e alguém logo surgiu acreditando que Ippi estava agredindo o pobre bêbado.

__Em uma discussão com o intrometido, Ippi foi atingido com um belo soco em sua boca. Ele foi ao chão e ali viu seu sangue escorrer junto da saliva até atingir o solo. Nesse momento, sentiu algo que nunca havia sentido antes, o vazio que sentia durante toda sua vida finalmente foi preenchido, com um sentimento misto de dor e prazer, isso lhe trouxe extrema alegria, uma excitação que nunca tinha sentido. Ippi se virou e continuou a provocar o homem que acabou por ir embora estranhando a situação, onde Ippi tinha ficado claramente de membro ereto ao apanhar.

__Ippi foi embora para sua casa, entrou sem falar com os pais e foi direto para o banheiro. Ao chegar em casa ficou encarando a ferida em sua boca por muito tempo, com desejo de sentir isso outra vez. Se deitou em sua cama e começou a passar a faca por todo seu corpo, enquanto... Bem... Batia uma. Definitivamente o momento mais prazeroso de toda sua existência até então.

__No dia seguinte de manhã, segunda-feira, Ippi se levantou cedo para ir ao seu trabalho, era ajudante em um grupo de pescadores. O dia se seguiu normal, mas Ippi não conseguia deixar de pensar na heresia que havia cometido na noite anterior, ele se sentia sujo, ao mesmo tempo que ansiava por viver aquilo outra vez. Essa dualidade o perturbaria ao longo de toda semana.

__Outra vez, o rapaz não conseguiu resistir a essa tentação e arrumou briga na rua outra vez... Mas agora, talvez pela raiva de si mesmo, revidou os golpes, o que foi muito pior. Além do prazer de perder sangue, também sentia isso ao ver o outro sangrando. Nesse momento, Ippi poderia parar com a briga e se lançar nos braços do rapaz afim de se envolver sexualmente. Mas ele não era assim, controlou seus impulsos e foi para casa afim de se satisfazer novamente.

__As semanas foram se passando, os machucados em seu corpo aumentando. Em um final de semana na igreja, se reuniu com todos para participar de uma festa, e ali tudo mudou. Entre as frutas dispostas na mesa, uma bem no fundo da cesta lhe chamou a atenção, era algo que ele nunca tinha comido. Desta forma a pegou, para logo em seguida comer e sentir aquele gosto horrível, fazendo-o acreditar que podia ser uma fruta podre. Jogou fora, mas poucos minutos após isso notou bolhas saindo de seu corpo. Sem conseguir esconder as bolhas que apareciam cada vez mais, decidiu ir embora escondido. Sozinho em casa, enquanto seus pais ainda estavam na festa, Ippi se acalmou e começou a "brincar" com as bolhas, percebendo que parecia ser algum tipo de presente divino, mal sabia que na realidade estava mais para um presente diabólico.

__Aos 19 anos, estava perdido em si, naquela ilha, com seus pais perto jamais poderia ser ele mesmo, e ansiava muito por sentir tudo aquilo novamente, com mais intensidade. Talvez em uma louca tentativa de se desvenciliar da culpa, criou uma mentalidade particular. A mão direita é aquela que dá, a mão de deus, a esquerda era a mão do diabo, aquela que tirava. Transferiu toda sua culpa para sua mão esquerda, acreditando que ela era o motivo de ser um pecador, mas precisava aceitar quem era. Por isso, decidiu de impulso que iria embora de sua terra natal, o mais longe possível de tudo que conhecia, queria viver sua própria vontade sem o pesar daqueles que o viram ser uma criança tão exemplar.

__Foi desta forma, que durante a noite, invadiu o barco de pesca e o roubou, viajando quase sem rumo pelo mar. Estava determinado em ter uma vida onde poderia viver os prazeres desejados. Foi assim que chegou a Ilísia, a cidade onde aprendeu algumas coisas, principalmente que não dava para ser um maniaco o tempo todo. Foi assim que criou a persona de Mister Buble. Esta foi uma forma que viu de usar tudo que aprendera durante toda sua vida como um religioso disciplinado. Mister Buble era a mascara social que Ippi precisava para ocultar seu verdadeiro ser. Em sua pele, uma pessoa sadomasoquista ao extremo, mas quando vestia uma das várias máscaras que tinha, quando Bubble vinha a tona, se tornava um sujeito gentil, aparentemente simpático com todos e feliz.

__Claro que ainda sentia a necessidade de nunca mais usar uma máscara, e quando conheceu seus companheiros viu pessoas que não se importavam com quem ele era. Mesmo que ainda precisasse ser o Mister Buble em alguns momentos, tinha plena certeza que ao menos com aquelas pessoas ele poderia ser quem era de fato.